quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Vox Pop: A ignorância dos nossos universitários

Para complementar o texto tão bem escrito aqui postado pela nossa coordenadora. É que nem vale a pena tecer qualquer comentário. A notícia fala por si!

Por André Barbosa e Tânia Pereirinha e imagem de Joana Mouta
Enquanto Portugal se ri da auxiliar de acção médica concorrente da Casa dos Segredos, que julga que África é um país da América do Sul, a SÁBADO fez um teste básico a 100 alunos de universidades de Lisboa.

Ana Amaro, de 18 anos, que frequenta a licenciatura com o mestrado integrado em Psicologia do Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA), está a fumar à porta da faculdade, em Alfama. Aceita participar no teste de cultura geral da SÁBADO (20 perguntas, divididas por dois questionários de 10, ambos com um grau de dificuldade mínimo), mas está mais preocupada em acabar o cigarro. À quinta questão (qual é a capital dos Estados Unidos?), começa a atrapalhar-se. “Estados Unidos...? A esta hora é muita mau”, queixa-se. Não são 7h, são 13h30, e os colegas começam a sair para o almoço. Mas Ana parece ter acordado há 10 minutos, suspeita que a própria confirma.
A partir daí, é sempre a cair.

Não sabe quem escreveu O Evangelho Segundo Jesus Cristo, quem fundou a Microsoft, quem é Maria João Pires nem que instrumento toca. E não parece preocupada. Afinal, acabou de acordar.
“Não dei isso no 12.º ano”, “Cinema não é comigo”, “Não me dou bem com a literatura” – na arte de justificar a ignorância, os estudantes universitários inquiridos pela SÁBADO têm nota máxima. “Se perguntasse alguma coisa de psicologia, agora cultura geral...”, diz Janine Pinto, optando pela desculpa número um.

– Quem pintou o tecto da Capela Sistina?
– Ai, agora... Tudo o que tem a ver com capelas e igrejas não sei (desculpa número dois dos universitários).
– E quem escreveu O Evangelho Segundo Jesus Cristo?
– Eh pá! Coisas com Jesus Cristo?! Sou fraca em religião ... (desculpa número três).
E se é que isto serve de desculpa, aqui vai a número quatro: Janine, tal como muitos outros inquiridos, não está num curso de Teologia, nem de Artes.

Mas Bruno Marques, 18 anos, no 1.º ano de Ciências da Cultura na Faculdade de Letras, escorrega num tema que deveria dominar.
– Quem é Manoel de Oliveira?
– Já ouvi falar, mas não sei quem é.
– Estás em Ciências da Cultura. Dás Cinema?
– Sim, algumas coisinhas, mas não sei...

Pedro Besugo, 18 anos, estreante no curso de Turismo da Lusófona, admite não saber qual é a capital de Itália. Perante a insistência da SÁBADO (“Então estás a tirar Turismo e não sabes?”), responde: “Será Florença?” Não é. Como também não é Veneza, nem Milão ou Nápoles, como outros responderam.

Não saber quem pintou a Capela Sistina ou Mona Lisa (um aluno responde Miguel Arcanjo; outro Leonardo di Caprio) é igualmente grave. Talvez não tanto como pensar que África é um país da América do Sul ou não fazer ideia do que é um alpendre. Mas Cátia Palhinhas, do reality show Casa dos Segredos2, autora destas e de outras respostas, que põem o público a rir, não frequenta o ensino superior – é auxiliar de acção médica e está a tirar o 12.º ano à noite no programa Novas Oportunidades.

Aos 22 anos, sonha tornar-se “conhecida e vencer na televisão”. Por isso, não está nada preocupada em saber qual o maior mamífero do mundo – “É o dinossauro!”, disse há umas semanas.
Há universitários que respondem “mamute” à mesma questão. Catarina, 20 anos, aluna de Psicologia do ISPA, fica na dúvida: “É o elefante. É o mamute. É o elefante. Acho que é o elefante. O elefante é de África e o mamute da Antárctida”.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

As Novas Oportunidades e o perigo das generalizações

As Novas Oportunidades e o perigo das generalizações

Relativamente às notícias recentes sobre os Centros Novas Oportunidades “O Governo vai redireccionar a rede de Centros de Novas Oportunidades e parte do seu financiamento para o Ensino Profissional, mantendo apenas alguns destes centros com as actuais funções e com financiamento limitado aos que tiverem melhores notas” passo a fazer alguns comentários:

Alguns pressupostos acerca da Iniciativa Novas Oportunidades:

1- Contempla dois eixos distintos: Jovens (Sistema de aprendizagem, Ensino artístico especializado, curso de educação formação e sobretudo Cursos Profissionais) e Adultos que não concluíram o ensino secundário (percursos de educação e formação ou processos de reconhecimento, validação e certificação de competências);

2- Obtenção de resultados decorrentes da aposta no nível secundário de educação como patamar mínimo de qualificação da população portuguesa

Por outras palavras, as Novas Oportunidades albergam várias respostas para a formação escolar e profissional, sendo os Centros Novas Oportunidades centros de diagnóstico e orientação, porta de entrada para percursos de qualificação e não “locais de certificação”, com o objectivo de certificar rapidamente e sem critérios de qualidade uma população pouco qualificada relativamente aos parceiros europeus.

O Ensino Profissional faz parte da mesma iniciativa e poderá, se não houver a fiscalização correcta, contribuir para o objectivo referido sob o n.º2, com riscos de facilitismo e a mesma “falta de qualidade” de que acusam as iniciativas ligadas aos adultos, só que desta vez apostando nos mais jovens.

Na minha opinião é fundamental separar o “trigo do joio” e lutar pela qualidade em toda a Educação e Formação. Isto implica uma avaliação profunda de todo o sistema de ensino, dos alunos que através do ensino recorrente ingressam em Medicina, de todos os “disléxicos” deste país (com tempo suplementar na realização dos exames nacionais) que integraram ultimamente o mesmo curso, das escolas de referência com reforço nas disciplinas específicas ou ainda a proliferação de Universidades Privadas em que se obtêm diplomas, sem reprovações e facilidades questionáveis. O mesmo se aplica obviamente aos Centros Novas Oportunidades, devendo existir uma fiscalização apertada da qualidade em detrimento das Metas, objectivos por vezes incompatíveis.

Tendo concluído aos 23 anos uma licenciatura em Direito na faculdade de Direito de Coimbra em 1986, à data olhava com estranheza os colegas trabalhadores estudantes, “velhos” de 30, 40 ou 50 anos, que apenas surgiam nos exames e pediam o apoio dos privilegiados que podiam ser estudantes no tempo e idade certa. Vinte e cinco anos de vida, dezasseis dos quais como professora do ensino Profissional e dois como coordenadora de um Centro Novas Oportunidades, compreendo-os finalmente.

Num País caracterizado por décadas de elevados níveis de iliteracia/ analfabetismo e que nos últimos quarenta anos tenta recuperar o tempo perdido através de um modelo de ensino aprendizagem dominado pelo método expositivo, é complicado fazer compreender e aceitar pela população a filosofia do balanço de competências.

Em 1992 o ensino profissional era encarado como o refúgio dos incapazes. Caracterizado por uma forte componente tecnológica e pela utilização de metodologias mais práticas nas áreas científica e socio-cultural, só tardiamente começou a ser aceite em Portugal, com grande atraso relativamente aos outros países europeus. Resultados?? Talvez os demonstrados pelos diversos estudos PISA em que Portugal detém um nível de iliteracia a Língua Portuguesa, Matemática e Ciências, batido apenas por alguns dos ditos “países em vias de desenvolvimento”.

Os resultados dos exames nacionais de 2010 do Secundário (Médias: 10,8, Matemática, 10,1 Português, 8,1 Físico Química e 9,6 Biologia) reforçados por 48,7 negativas a Matemática no Básico reforçam a (des) crença no nosso sistema de ensino.

O ritmo de mudança social exige competências cada vez mais vastas e em constante adaptação, como forma de resposta às necessidades de um mercado em mutação. Tendo em conta a contextualização histórica, o balanço de competências surge como resposta à necessidade sentida por alguns países de reconhecer os saberes adquiridos, encurtando os percursos de formação subsequentes e respondendo assim aos maiores níveis de qualificação exigidos por novos empregos, novos desafios.

Num País com baixos níveis de escolarização, elevado número de desempregados, integrado numa União Europeia em que é quase sempre o “último do pelotão” a iniciativa Novas Oportunidades surge como a resposta adequada. Refira-se que no balanço feito pelos 27 países sobre o tema “Recovering from de crisis”, Portugal apresenta este projecto como solução aos novos desafios de (des) emprego.

Acima de tudo, quer no eixo Jovens, quer no eixo adultos, o desenvolvimento de um Pais e o aumento da competitividade dependem da aposta no reforço das competências técnicas apoiadas pelas competência relacionais, pela melhoria das competências de literacia e de informática, pela maior disponibilidade para a aprendizagem, pelo aumento da responsabilidade, da confiança e da eficiência. Quando conseguirmos fazer renascer a consciência e o espírito crítico estaremos finalmente no bom caminho!!!

Vozes críticas são positivas e quando Maria do Carmo Vieira em “O ensino do Português (Fundação Francisco Manuel dos Santos) inicia o capítulo dedicado à Iniciativa Nova Oportunidades com a citação de Jacques Muglioni “Platão advertiu-nos que para formar um escravo é preciso pouco tempo. Instruir e esclarecer homens livres é outra coisa.”, argumentando que (…)a intervenção do professor se resume a um encontro de três horas, no qual elucida os candidatos sobre a realização do seu portefólio(…) e que (…) os professores são também avaliados pelo número de candidatos certificados(..), (..) recebendo os candidatos o seu certificado de 9.º ano em três ou quatro meses, enquanto que no Secundário, o prazo varia entre seis e nove meses(…) generaliza certamente a partir de situações pontuais. O aumento de duração média do processo e do número de horas de formação complementar e de sessões individuais assim o atestam. A não consecução das metas propostas pela maioria (totalidade) dos CNOs também não corrobora aquelas teorias…

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

A história desta aventura

Aqui fica mais um registo da importância do reconhecimento para a valorização pessoal, formativa e profissional do candidato Hélder Lopes que também procurou obter o CAP após a obtenção da certificação escolar junto deste Centro:
A História desta Aventura

Uns amigos falaram-me sobre a possibilidade de obter equivalência ao 12º ano de um modo acessível, através do processo de RVCC, e ainda podia adquirir um portátil barato! Fui à internet esclarecer algumas dúvidas e como não achei difícil, inscrevi-me. Poucos dias depois recebo um e-mail para ir à apresentação do processo. Gostei da sessão, achei que o processo iria ser fácil. Resolvi, então, levar este projecto para a frente e assim foi. Mas a minha vida profissional não me deixava muito tempo para me dedicar ao estudo apesar de toda a equipa ter estado sempre disponível para me ajudar. Aos poucos fui desistindo…, estive alguns meses sem fazer nada pois não tinha tempo. Mas um dia contactaram-me e convenceram-me a retomar o processo. E assim fiz e com ainda mais garra, com vontade de acabar e fazer muito mais. Em pouco tempo depois terminei o processo e desafiaram-me a obter uma certificação profissional. Levei o desafio a sério e propus-me à certificação de aptidão profissional de Técnico de Electrónica Industrial. Com isso, preparei o meu CV e a minha candidatura e fui apresentá-la no CINEL, entidade acreditada para o efeito, tendo conseguido obter aquele CAP. Hoje sinto-me mais forte e à-vontade no mercado de trabalho porque tenho algo para apresentar. Muito obrigado à Dra. Inês e à sua equipa que foi extraordinária. Agora estou a preparar-me para um dia dar formação na minha área, algo de que gostava muito. Para todos aqueles que estão a participar num processo de RVCC, vale a pena o esforço!

Hélder António Gonçalves Lopes
08/11/2011

terça-feira, 8 de novembro de 2011

À conquista da certificação profissional

Uma das funções do Centro é apoiar os candidatos na candidatura à certificação profissional que presentemente poderá ser obtida através da conclusão com aproveitamento de um curso inserido numa das modalidades de formação do Sistema Nacional de Qualificações (SNQ) ou de um processo de reconhecimento, validação e certificação de competências profissionais (RVCC profissional). Foi o que aconteceu ao candidato Nelson Batista que concluiu connosco o nível secundário de escolaridade e posteriormente obteve a certificação profissional junto do CINEL. Fica aqui o registo na primeira pessoa enviado pelo candidato:

Como diz o velho provérbio popular, “mais se sabe por experiência do que por teoria”. Aproveitando estas palavras sábias, ao longo da minha carreira profissional na área industrial (18 anos), primeiro na área de produção e presentemente na área de manutenção, é chegada a altura de ver certificadas todas as minhas competências e conhecimentos por uma entidade certificada para o efeito (CINEL). Todas as acções de formação realizadas dentro e no exterior da empresa para a qual presto funções foram, ao longo de todos estes anos, determinantes no desempenho das minhas funções, assim como essenciais para a obtenção do meu CAP. Através do CINEL obtive uma Certificação de Aptidão Profissional necessária para o exercício da profissão de Técnico de Electrónica Industrial. Embora esta certificação tenha sido facilitada pelo vasto leque de formações adquiridas ao longo de todos estes anos, não posso deixar de realçar a ajuda pronta e prestável das técnicas do CNO ACIFF, em especial pela orientadora Inês Pinho, pois sem esta preciosa ajuda, a conclusão deste desafio teria sido bem mais difícil. Pequenas dicas, como por exemplo a escolha da entidade certificadora, o incentivo para a certificação, a recolha de documentação, etc., pequenas coisas que muitas vezes, por preguiça ou desleixo, fazem com que deixemos escapar oportunidades importantes e cada vez mais necessárias para o nosso dia-a-dia. A conjuntura sócio económica adivinha-se muito difícil, se por necessidade ou por iniciativa própria tiver de procurar outra actividade profissional, tenho hoje em mãos uma mais-valia fundamental para fazer face às cada vez mais exigentes regras do mercado de trabalho.

2011-11-07
Nelson Batista